sábado, 23 de agosto de 2014

Nostalgia ilhéu

Há muito tempo o mar fez um pacto com os vulcões,
Que bramindo cuspiram lava flamejante que brotou do ventre da Terra.
O sangue negro foi-se acalmando, modelando, esculpindo.
Montes, vales, encostas e fajãs verdejantes surgiram.
Das cinzas férteis nasceram flores, um mar de flores brotaram espontâneas,
Fruto duma constante humidade que o mar sempre presente,
Transpira, e que o ar quente sobe ao alto e se alia ao frio,
Se carrega e encarrega de ir borrifando, antes que tarde, 
E que sem perder tempo depois de acalmar a sede da terra, 
Desliza suavemente, ou aqui e acolá, se atira precipício abaixo, 
Para mais adiante voltar a acalmar por entre fresca e viçosa vegetação 
Sempre em direcção à origem, à água-mãe, 
Fechando o ciclo da Natureza. 

sexta-feira, 25 de julho de 2014

O que é o ódio?

    O ódio é um sentimento contrário ao amor, conflituoso, tempestuoso, arrogante, vil, cobarde e mesquinho, que corrói as relações humanas.

    É como um veneno que o indivíduo toma e fica à espera que o outro morra. Alimenta-se de pequenas querelas, ciúme, inveja, mal-entendidos, interesses, arrogância e demonstra a incapacidade que a pessoa tem em relação à superioridade do odiado.

   Quando nascemos, somos como um diamante em bruto; se não for correctamente lapidado nunca terá o estatuto de pedra preciosa; não passará de um pedaço de cristal qualquer.

   E essa "lapidação" passa pela maior ou menor capacidade que o indivíduo tem em se deixar burilar, aperfeiçoar; pela sociedade em que vive, pelos "valores" que defende, pelas opções que toma, pelos objectivos que tem, e com quem se relaciona.

   O ódio, é um sentimento, uma emoção exacerbada de raiva, Quem sofre deste problema, raramente se cura, porque não tem capacidade de discernimento, nem humildade para se submeter ao tratamento; não aceita que está errado; acha que os outros é que estão errados, que são maus; porque o ódio cega. A pessoa cega pelo ódio influencia o fraco, pondo-o ao seu nível.

   O ódio, por incapacidade intelectual, procura baixar o nível do seu semelhante para se sentir alguém.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Idílico

Suavemente viajo pela minha memória
Em busca de outros tempos:
Vejo-me embrenhado em fresca vegetação
Cujas pétalas guardam gotas cintilantes,
Da humidade que os raios de sol
Ainda mal acariciaram no amanhecer.
Ainda sinto o odor das hortências,
Da flor da cana-roca ou das rosas;
Que outrora não valorizava.
Mas que os meus cãs, a distância
E o tempo me ensinaram a amar.
Volto a descer falésias abruptas
Sempre envolto em húmida flora,
Seguindo velhos trilhos através
Das copas dos inhames e dos fetos,
Que hão-de levar-me ao mar.
Tropeço aqui, escorrego ali, seguro-me.
Como posso, no primeiro arbusto
Que a minha mão encontra,
E num ápice abre-se diante dos
Meus olhos aquele mar azul,
Quente e translúcido, onde repousam
As minhas origens e memórias,
E onde um dia regressarei; qual "filho
Pródigo que à casa do pai volta".
Viajo pelos labirintos cada vez mais
Esconsos da minha memória,
Quando no meu leito me deito,
Vejo fragas, neblinas e azuis celestes,
Olho o firmamento e o oceano,
Vejo um luar incomum na Terra;
O luar e as estrelas da minha terra.

sexta-feira, 27 de junho de 2014

800 anos da Língua Portuguesa

    O primeiro texto conhecido em Português foi o testamento de D. Afonso II, de 1214 O idioma Português é falado em todos os continentes por cerca de 244 milhões de pessoas. Ao longo da sua já longa caminhada a Língua Portuguesa foi evoluindo para se adaptar aos novos tempos. Com origem no Latim, que de início tinha duas vertentes: o clássico, língua falada e escrita apenas pelos eruditos: poetas, prosadores, filósofos e retóricos; e o Latim vulgar, que era falado pelo povo em geral: analfabetos, agricultores, artífices, soldados, marinheiros, barbeiros, escravos, entre outros, o Português chegou ao Século XXI de tal modo alterado que Camões e Eça de Queirós estarão a dar voltas no esquife pelos atentados e atrocidades que lhe fizeram. As sucessivas alterações que foram feitas à ortografia deixaram a Língua Portuguesa praticamente descaracterizada.
   Para quem tenha estudado a etimologia latina, sente-se defraudado com as sucessivas alterações que fizeram à Língua de Fernando Pessoa. Não é concebível que em nome de supostos interesses políticos e económicos se destrua um património que é de todos e não de apenas alguns pretensos iluminados! Já aqui expressei esta opinião: a Inglaterra e os Estados Unidos da América, USA, têm uma língua em comum: o Inglês, contudo, o Inglês falado na Terra do Tio Sam é ligeiramente diferente daquele que se fala na terra de Isabel II, e nem por isso os dois Estados deixam de se entender perfeitamente, apesar de os USA terem a maior comunidade de falantes de Inglês! E podia dar aqui inúmeros exemplos: na Espanha, aqui ao lado, cuja língua oficial é o Espanhol ou Castelhano, mas que tem vários outros idiomas, como o Catalão, o Basco, o Galego ou o Valenciano, e que também é falado/a em quase toda a América Latina! Ou ainda o Francês que é falado na França é diferente do de Quebeque, no Canadá, ou do falado no principado do Mónaco, ou ainda no Luxemburgo, na Suíça, na África francófona, ou na Polinésia Francesa, na Oceânia. Posto isto, por que razão fomos obrigados a aceitar alterações à nossa ortografia se o Brasil foi descoberto por Pedro Álvares Cabral há mais de 500 anos!? Só porque o Brasil tem mais falantes que Portugal?
   Mas o Português falado (e escrito) no Brasil continua a ser diferente do que é falado em Portugal; e muitas palavras usadas aqui, têm significado diferente lá! Por que razão o governo português não efectuou um referendo para que o povo português se pudesse pronunciar democraticamente acerca deste assunto? Será que a alteração às regras do Acordo Ortográfico era menos importante do que a questão da Interrupção Voluntária da Gravidez, ou sobre a regionalização? Pelos vistos sim! Não tendo havido consulta popular, os interesses políticos e económicos sobrepuseram-se a quaisquer outros! Será que os políticos portugueses se acham donos da Língua Portuguesa?

sexta-feira, 25 de abril de 2014

"Dizem que houve um Golpe de Estado em Lisboa"

   Há quarenta anos a notícia começou a circular numa mercearia conhecida na Rua do Porto, em Santa Cruz das Flores, pela manhã, ainda cheia de receios, trazida pelos mais velhos, que acabavam de a ouvir na rádio. Tinha eu dezassete anos nessa altura e estava a trabalhar como empregado de balcão na mercearia atrás referida. Atendendo a que o Antigo Regime protegia os patrões e que estes se faziam valer da total impunidade de que beneficiavam, quer quanto aos miseráveis salários que pagavam, quer quanto aos maus tratos que davam aos seus empregados; sobretudo aos mais novos, que foi o meu caso, em que fui tratado a pontapé e chapada na cara e a constantes humilhações em público, a notícia, embora pouco clara, provocou-me desde logo um sentimento de esperança, de alívio, de que a partir dali alguma coisa muito importante poderia mudar na minha vida; embora não percebesse nada de política (ainda hoje pouco percebo!) Nessa altura, em 25 de Abril de 1974, eu já trabalhava no referido comércio há 7 anos, uma vez que terminei a antiga 4ª Classe com pouco mais de 10 anos de idade. Até aí, a exploração do trabalho infantil era normal; e ainda se prolongou pela democracia durante alguns anos.
    Nas famílias mais pobres e com vários filhos, que era o caso da minha, os pais punham os filhos a trabalhar para ajudar ao sustento da família; embora esse não fosse o meu desejo - que era o de continuar os meus estudos - e de nada valeu que o então Director escolar, o senhor professor Victor Manuel Sequeira, ter vindo bater à porta dos meus pais a pedir-lhes que me deixassem continuar a estudar, porque a resposta foi a de que era necessário que eu trabalhasse para ajudar a família. Trabalhava então desde as oito horas da manhã (sem falta!), até às sete ou oito da noite, de segunda-feira a sábado até às sete ou oito horas da noite, conforme havia necessidade e conforme convinha ao patrão. Ia e vinha a pé para e do trabalho; no regresso, no Inverno, às escuras, pois não havia iluminação eléctrica, excepto na vila onde trabalhava; mal agasalhado; se chovesse a caminho do trabalho e ficasse molhado, a roupa secava no corpo ao longo da jornada de trabalho! Nessa altura não se falava em fim-de-semana; apenas se descansava ao domingo; excepto quando havia inventário (balanço como se dizia na altura), porque se o houvesse, éramos obrigados a trabalhar durante a semana também à noite, e ao domingo também; sem nada ganharmos com esse trabalho extraordinário! Em 25 de Abril de 1974, com sete anos de serviço e 18 de idade, eu ganhava menos de dois mil escudos por mês, ou seja, cerca de 10 euros; ou melhor, cerca de; € 0,40/dia (quarenta cêntimos por um dia de trabalho de sol a sol!) (Sempre era mais do que o primeiro salário: 150 escudos por mês; € 0,75/mês, ou seja 75 cêntimos por mês, o que dará cerca de € 0,025/dia, vinte e cinco cêntimos por um dia de trabalho; uma exorbitância! Nessa altura também não havia férias nem subsídio de férias; era trabalhar e calar! Não tínhamos sequer a coragem de reivindicar o que quer que fosse. Nesse ano (1974) os meus pais decidiram emigrar para os Estados Unidos da América a fim procurar uma vida melhor para a família; era o sonho americano!        Contudo, devido aos meus 18 anos e à instabilidade que se vivia no pós-25 de Abril, o governo de então não permitiu que eu acompanhasse a família (era um mancebo; idade para alistamento militar) tendo ficado atrás em casa de uns tios pobres e analfabetos, o tio José Toza a tia Maria Carmina Toza, que me acolheram como puderam, apesar das suas limitações, mas que lhes fiquei eternamente grato por isso.
    Um mês após a Revolução dos Cravos, em 26 de Maio de 1974 foi decretado o primeiro salário mínimo nacional de 3.300$00 por mês, ou seja, € 16,50 Contudo, devido à total impunidade com que ainda beneficiavam os patrões, o meu salário só veio a ser aumentado para esse valor, um ano depois, em 1975; sem qualquer direito a retroactivos! Olhando para o passado de há 40 anos, o país está muito melhor: posso aqui ou em qualquer lugar exprimir a minha opinião sem receio da PIDE/DGS, posso criticar o Governo; há mais igualdade social; a saúde melhorou, (a taxa de mortalidade infantil diminuiu), e isso reflectiu-se no aumento da idade média da esperança de vida, tanto para o homem como para a mulher; o ensino melhorou, a taxa de analfabetismo em Portugal passou de 18,6% em 1981 para 5,2% em 2011 (Fonte: "PORDATA), a escolaridade obrigatória passou de 4 para 12 anos, o número de licenciados aumentou; passou a ser proibido aos maridos abrirem a correspondência da mulheres e também de terem que dar autorização a estas quando elas se quisessem ausentar para o estrangeiro, entre muitos outros direitos sociais que seria exaustivo aqui relatar. Porém, se por um lado a vida dos Portugueses melhorou substancialmente, por outro, assiste-se hoje a um retrocesso social e económico, a um significativo aumento da corrupção e ao desaparecimento da classe média e às desigualdades sociais: os pobres mais pobres e os ricos mais ricos. O país entrou em bancarrota devido ao despesismo e má gestão dos recursos financeiros de sucessivos governos, devido a políticas sociais erradas com base em investimentos megalómanos, aos agiotas e à especulação financeira, que levaram o país à ruína! Hoje, vive-se melhor em Portugal, mas o actual estado da nossa democracia é preocupante; os sucessivos governos não merecem mais confiança: prometem uma coisa e fazem outra! Quase ninguém confia nos actuais políticos! Quando há eleições a abstenção é cada vez maior. Os jovens estão alienados da política. Assim, os propósitos de Abril estão cada vez mais longe de serem alcançados! Não conheço outro regime político melhor do que a Democracia, mas a actual, afasta-se cada vez mais do ideais de Abril!

terça-feira, 18 de março de 2014

Por que será que o mundo já não fala de Mikhail Gorbachev?

Numa altura em que a Rússia dá sinais de pretender anexar parcelas ou até países da outrora URSS, como foi o caso da Ucrânia, o mundo parece ter esquecido o jurista e político soviético Mikail Gorbachev, antigo presidente da ex-União Soviética, que desenvolveu esforços no sentido de democratizar o sistema político e descentralizar a economia daquelas repúblicas - revolução que foi chamada de Perestroika e que levou à queda do comunismo naqueles territórios bem como ao desmembramento da então União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. O Prémio Nobel da Paz foi atribuído a Gorbachev em 1990 pela sua contribuição para o fim da Guerra Fria, contudo, o seu compatriota Vladimir Putin parece querer fazer reverter a História, anexando a Crimeia, a que se seguirão outros Estados, paulatinamente. Veremos que reacção terá a Comunidade Europeia, a NATO e os EUA!Será que as alegadas sanções impostas à Rússia vão fazer recuar Putin? Uma coisa é certa: o mundo jamais pensaria que em pleno século XXI voltaria a ouvir falar em anexações de territórios autónomos e com a sua própria soberania!

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Toi tu étais une gamine

Toi tu étais une gamine, Moi j'étais un petit garçon On s´est connusdans tes vacances Vite on est devenu amoureux Très passionés et, Très content de se connaître Aujourd´hui, les années sont passées Toi et moi on est devenu moins jeunes Nous ne sommes plus assaillis par des sentiments de passion Cependent, nous nous sommes toujours ensamble.

Base Francesa nas Flores

     Foi com imenso gosto e até alguma nostalgia que assisti à visualização dos vídeos "Opération Hortensia" na Biblioteca Pública...