segunda-feira, 19 de julho de 2010

Algumas notas sobre a Língua Portuguesa

Escrevo neste momento a pensar nos meus conterrâneos que escolheram, quer a terra do "Tio Sam" ou, a de "Sua Alteza Real Elizabeth II" - um símbolo dos laços históricos do Canadá com o Reino Unido -, para fugirem à miséria em que foram condenados pelo regime do Estado Novo , ou da Ditadura de Oliveira Salazar, se preferirem, e neles se realizarem economicamente. Não tenho a pretensão de ser um linguista, mas sim um estudioso da Língua Lusa! Vem isto a propósito do facto de, também eu, me ter ligado às chamadas redes sociais (Facebook, Blogues, etc.) , e, por isso, tenho vindo a constatar que grande parte dos nossos emigrantes, ou descendentes destes, se manifestam nestas redes na Língua Inglesa! Mas, curiosamente, alguns, até se identificam com a Bandeira Portuguesa, os Clubes de Futebol Portugueses, a Gastronomia Portuguesa - que até a elegem com as suas fotografias -, mas que, curiosamente, escrevem em Inglês! Ora, embora compreenda que para uma boa integração nestes países seja essencial e necessário o uso das línguas que aqui se falam (no Canadá há duas línguas oficiais o Inglês e o Francês e nos EUA, o Inglês), entendo que essa não é razão suficiente para que eles deixem de praticar a sua língua materna, ou até a dos seus pais! Há um provérbio popular que diz que "saber não ocupa lugar"! E ainda, quando um dia decidirem visitar as suas terras de origem, é importante saber falar em Português! Por isso, não compreendo por que razão não aproveitam as tais redes sociais para exercitarem a sua língua materna! Porque, é um paradoxo, apoiar pública e universalmente aquilo que é português, mas, escrevendo em Língua Inglesa! Às vezes questiono-me se acaso os nossos luso-descendentes terão vergonha de falar a sua língua materna!? Ou será por uma questão de facilitismo? Seja por que razão for, quando se exibem símbolos da Pátria, dever-se-ia, por uma questão de coerência, acompanhá-los na respectiva língua! Nesta altura do meu texto, já estou a imaginar quantos dos meus possíveis leitores dirão: mas quem é este agora que me está para aqui a tentar dar lições de patriotismo? Pois, é! Não, não é disso que se trata! Estou apenas a tentar despertar as vossas atenções para algo que muito provavelmente vos escapa no dia-a-dia! Lembrem-se, que ser patriota não é exibir a bandeira Portuguesa por causa dessa coisa estúpida a que chamam futebol (que serve "apenas" de escape ao povo, para que este se aliene dos seus legítimos direitos sociais) ; não é defender determinados pratos típicos da gastronomia portuguesa apenas porque são saborosos ...ou ainda, porque determinadas zonas de Portugal nos merecem orgulho pela sua beleza única! Ser patriota é muito mais que isso! Não se iludam! Ser patriota, é defender antes de mais, a língua de um país, neste caso, a de Camões! O Português é a 5ª língua mais falada no Mundo. Estima-se que há mais de 240 milhões de falantes de Português no Mundo. Porque, é graças a ela que somos quem somos; que fomos pioneiros nas Descobertas; que temos uma História que é das mais ricas do Mundo! E da qual nos devíamos orgulhar todos! Uma língua que é das mais ricas de todas! Temos termos que apenas existem na nossa Língua Portuguesa. Um singular exemplo, que vem mesmo a propósito: a palavra saudade não existe em mais nenhuma língua! Dir-me-ão, que é uma língua complicada. E eu responderei, que esse conceito se deve ao facto de a desconhecermos! Em lugar de complicada, deve entender-se, que é uma língua rica! Mas, como qualquer outro assunto, requer prática!

segunda-feira, 8 de março de 2010

Uma Criança no Mundo do Trabalho - I

Tinha onze anos de idade e acabara de concluir a antiga quarta classe do ensino primário quando entrou para o mundo do trabalho. Era uma criança igual a tantas outras da sua idade, e foi lançado assim num mundo desconhecido. A jornada de trabalho era longa, das oito horas da manhã até às oito da noite, quase sempre. De casa ao trabalho havia três quilómetros que eram feitos a pé e descalço (nos primeiros anos), e se chegasse ao trabalho com a roupa molhada, esta enxugava no próprio corpo ao longo do dia de trabalho. Se levantar cedo para ir trabalhar era difícil, o regresso a casa não era melhor, sobretudo no Inverno, pois os Invernos de outrora eram bem mais rigorosos que os de agora. Além disso, se chovia e trovejava, tudo piorava, e, para agravar a situação, não havia iluminação eléctrica se não dentro das vilas. Por isso, ao abandonar o local onde trabalhava, tinha de caminhar às escuras. Nesta idade o medo apoderava-se da frágil mente desta criança, e o caminho inclinado e sinuoso tornava-se num calvário até vislumbrar as primeiras ténues luzes dos candeeiros a petróleo que iluminavam as casas que, espaçadamente, se encontravam ao longo do caminho de regresso a casa. A esperá-lo tinha, muitas vezes - ainda hoje recorda essas noites -, uma tigela com sopas de pão de milho e leite para o jantar. Depois de confortado o estômago, tomava um merecido banho (não, não tinha duche, nem banheira, nem casa de banho, era numa selha de madeira que o fazia - era assim naquele tempo -, e ia para a cama, pois não havia entretenimentos, como hoje: televisão, computadores, consolas de jogos, telemóveis, tablets, etc., e no dia seguinte era preciso levantar cedo, pois tudo começava de novo. O ordenado (salário) eram uns míseros cinco escudos por cada dia de trabalho (dois cêntimos e meio de euro). Trabalhava de segunda-feira a sábado, até às sete ou oito horas da noite, ou seja, de sol a sol. O patrão era um fascista violento e arrogante. Sempre que a criança - e mais tarde o jovem -, fizesse algo de errado, aquele agredia-o fisicamente e exercia violência psicológica, colocando-o de castigo num local sem de lá poder sair, pois se o fizesse apanhava mais, proferindo-lhe insultos de forma veemente. Desses maus tratos, ficou-lhe não a recordação da dor física, mas sim, um trauma por ter sido ofendido na sua dignidade como pessoa. Na década de 60 e até à segunda metade da década de 70 não havia leis que protegessem os trabalhadores! Não havia o direito a férias nem subsídio de férias, como há hoje em Portugal. O trabalho que esta criança escravizada desenvolveu ao longo de quase uma década, foi num comércio, chamado de mercearia. Ainda não havia salários mínimos. Estávamos no tempo da Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE), da Ditadura de Marcello Caetano - que apostou na continuidade, um seguidor de Salazar, outro ditador. Se fosse necessário fazer um inventário (balanço), era obrigado a trabalhar dia e noite, sem nada ganhar de suplementar. O martírio só acabou aos vinte anos de idade, quando o jovem foi chamado a cumprir o serviço militar então obrigatório. Sim, foi na tropa que aprendeu que era gente, que tinha direitos e foi respeitado. A disciplina militar, apesar de rígida, quase foi branda comparada com o seu passado traumatizante. Filho primogénito de quatro irmãos, de uma família modesta de agricultores, não lhe restou outra alternativa se não ir trabalhar - embora o seu desejo não fosse esse, mas sim continuar os seus estudos - o que fará muito mais tarde -, para ajudar ao orçamento familiar. Nessa altura (já) os trabalhos eram escassos, assim, não se podiam escolher, por isso, este era um sacrifício necessário. A história deste jovem  não é ficção, trata-se de um caso real, e é um retrato fiel e encurtado, daquilo que foi a infância e juventude deste jovem, hoje homem, dos dez aos vinte anos de idade).

domingo, 7 de março de 2010

Um Mundo Inseguro

Vivemos na era da globalização. Algo que aconteça num qualquer país do Mundo terá certamente repercussões à escala planetária. Portugal, um pequeno território à "beira-mar plantado", um país dito de brandos costumes, adere à Comunidade Económica Europeia (CEE), que depois passa a chamar-se Comunidade Europeia (CE). Este acto vem a gerar necessidades para os países aderentes: franqueamento de fronteiras; livre circulação de pessoas e bens; coordenação de fusos horários; adopção de uma moeda única, o euro; estabilização da desvalorização das moedas nacionais; controlo das dívidas internas de cada Estado-Membro; apoios financeiros aos países mais carenciados, de modo a que estes se aproximem da média dos países comunitários; a possibilidade de qualquer cidadão europeu poder votar nos representantes políticos em qualquer Estado-Membro; o direito a poder estudar em qualquer país comunitário, entre outros direitos constituídos no Acordo Europeu. No entanto, devido à abertura de fronteiras, à livre circulação de pessoas e bens, à possibilidade de os cidadãos poderem circular livremente, houve um aumento da criminalidade na Zona Euro, provocando instabilidade e insegurança para os cidadãos locais. Surgiram as máfias organizadas. Potenciou-se o tráfico humano incontrolável. Aumentou o crime económico e financeiro. A Europa passou a ter em comum os mesmos problemas sociais que outrora estavam confinados a apenas alguns destes países. Terá sido esta uma boa opção para Portugal?

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Portugal, um país à deriva.

Portugal é um país pequeno é certo. Mas só é pequeno em superfície! Em tudo o resto, é grande!

É grande na dívida externa, na crise económica, nas sucessivas crises políticas, no desemprego, na corrupção, nos índices de criminalidade (depois da abertura das fronteiras temos as denominadas Máfias de Leste, e até a própria ETA já tem bases em Portugal!), nas fugas ao fisco na fraude fiscal, nas derrapagens orçamentais, nos desvios de dinheiros públicos, a fazer Exposições megalómanas - a Exposição Mundial de 1998, terá custado ao Estado mais de 300 milhões de contos (era pretensão da Parque Expo, que as receitas cobrissem as despesas, mas não foi isso que aconteceu, ficaram milhões para os Portugueses pagarem) , a construir Estádios de Futebol - no Europeu de Futebol 2004 , segundo o Tribunal de Contas, terão sido gastos 445 milhões de euros (um elefante branco, onde actualmente as autarquias enterram cerca de 20 milhões de euros por ano na manutenção destes mamarrachos que não servem para nada!), a construir o Centro Cultural de Belém que serve para encher o olho aos papalvos, que depois têm que sustentar mais este; é grande na ineficácia e na lentidão da justiça, graças à criação de leis feitas em quantidade, mas cuja qualidade é duvidosa, na construção de museus novos em época de crise económica, é grande em políticos incompetentes e mal-educados ( que fazem corninhos com os dedos uns aos outros em plena Assembleia da República), em ter ruas e estradas atulhadas de lixo, na falta de civismo dos Portugueses, porque aqui é normal cuspir-se para o chão e atirar papéis e pontas de cigarro para o chão, conduzir alcoolizado, drogado, sem carta de condução, sem seguro automóvel, em contra-mão nas auto-estradas, na agressividade na condução automóvel, no estacionamento selvagem, e consequentemente na sinistralidade automóvel, é grande a construir rotundas por todo o lado, é grande em obrigar os Portugueses a pagar impostos superiores a muitos outros cidadãos dos países da Europa Comunitária - por sua vez, é o segundo país da Zona Euro que tem o salário mínimo nacional mais baixo: € 475.00 , na compra de submarinos caríssimos (973 milhões de euros!) quando o país não está em guerra, nos privilégios que os políticos atribuem a si próprios, na construção de novos aeroportos que apenas vão servir parte dos Portugueses, na construção do TGV (trem de alta velocidade), que apenas vai servir os industriais e os espanhóis... e, actualmente (Carnaval de 2010...), o caso que está a fazer correr rios de tinta, "Face Oculta", uma teia de corrupção que envolve o Primeiro-Ministro , (já agora, alegadamente) e administradores bancários, apanhados na ratoeira das escutas telefónicas em conversas também alegadamente privadas, mas que são tidas entre figuras públicas, e que ao que nos tem sido dado saber, não abonam em nada a honra dos seus protagonistas, por um lado, e por outro, deixam o povo português sem saber em quem podem acreditar - se é que ainda há alguém em quem se possa acreditar no mundo da política actual!

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Ilha do poeta Roberto de Mesquita (1871-1923)

Ilha do poeta Roberto de Mesquita (1871-1923)  Ilha das Flores

(Re) Descoberta por Diogo de Teive e seu filho João de Teive em 1452 (?) no reinado de D. Afonso V, e mandada povoar pelo Infante D. Henrique em 1452, localizada em pleno Oceano Atlântico, no Grupo Ocidental do Arquipélago dos Açores, de forma trapezoidal, a sua plataforma central desenvolve-se entre os 500 e os 600 metros de altitude. É o ponto mais ocidental da Europa. A meio caminho da América do Norte. Fruto de antigos vulcões extintos, com pouco mais de 143 Km2, e cerca de 4000 habitantes, terá passado pelos nomes de ilha de S. Tomás, ilha de Stª. Iria, ilha de Corvos Marinhos, e finalmente, ilha das Flores, devido à abundância de Flores, de entre elas, cubres - quase extintos.

Coberta de vegetação de um verde luxuriante , relevo acentuado - nisto se diferencia das restantes oito ilhas - com vales profundos, montanhas imponentes, cascatas sumptuosas, onde a água mole se despenha falésia abaixo em torrentes impetuosas na invernia, ou em quedas mais delicadas e calmas no estio, que logo ali à nascença das fragas se pulveriza, cria remoinhos ascendentes, coloridos pelo magnífico arco-íris que o Sol doira.

Na plataforma central, encontram-se sete crateras de vulcões extintos, que deram lugar a outras tantas lagoas (Funda, Comprida, Seca, Água Branca, Funda das Lajes, Rasa, e Lagoa da Lomba*), que são de uma beleza apaixonante, devido às suas diferentes matizes, dimensões e profundidades - nalgumas delas existem carpas e trutas. No fundo dos vales, a água que brota das montanhas ou dos musgos, "burrecas" (Bryophyta) escorre pausadamente formando numerosas ribeiras mais ou menos caudalosas, aqui ainda translúcida, quase adormece aqui e ali, por entre uma vegetação fresca e viçosa, para logo adiante se lançar precipício abaixo, sempre em direcção à água-mãe.

O azul das hortênsias, o aroma das suas pétalas orvalhadas, matizadas de rosas, do mar e do céu, qual paleta de cores, aliam-se harmoniosamente. Ouvir o chilrear e gorjear dos tentilhões na Primavera, o canto dos cagarros à noite, o balir do vitelo, o mugir das vacas nos prados, ou o cantar dos grilos nas suas tocas, é estar em comunhão com a Natureza!

O vento, dizem os florentinos, é o maior inimigo do Homem! Dizem que: "não venha vento/que chuva não é mau tempo"; mas também este elemento da Natureza tem o seu encanto, quando nas noites de invernia assobia nos fios eléctricos ou no resfolhar das árvores! No passado ... ah!, como me lembro ainda, do choro dos carros de bois com os eixos apertados nas descidas íngremes no regresso ao palheiro carregados de incensos para alimento das vacas no Inverno e de lenha para as lareiras, (não para aquecimento da casa, mas sim para cozinhar os alimentos, em panelas de ferro) e para o forno de lenha, onde era cozido o pão para a família. E como cheirava tão bem o pão de milho quando saía do forno, que as nossas mães coziam! E como era saborosa a manteiga amarelinha que era fabricada nas nossas casas, batida dentro de uma lata atada às traves mestras da casa! Como era límpida a água que corria nas ribeiras onde as nossas mães iam lavar a roupa da família! Ah!, como é bom banhar-se nas águas tépidas e translúcidas deste mar salgado influencia


Nota: Segundo documentos históricos compilados por Viriato Campos,
"Sobre o Descobrimento e Povoamento dos Açores", a lha das Flores, Açores, comemorará este ano (2010) os 500 anos do seu povoamento.

(* Por razões que desconheço o nome das lagoas terá sofrido ligeiras alterações)

Base Francesa nas Flores

     Foi com imenso gosto e até alguma nostalgia que assisti à visualização dos vídeos "Opération Hortensia" na Biblioteca Pública...