segunda-feira, 21 de outubro de 2013

"A minha pátria é a minha língua



Mas a minha língua não é a minha pátria;
Porque a minha pátria é a minha ilha;
E a minha língua é o som dos vulcões.
O meu sangue é o meu mar,
Esse mar salgado e limpo,
Essas águas azuis translúcidas foram o meu berço,
E serão o leito onde repousarei um dia.
Que saudades desse mar!
Do odor a maresia,
Do alo do seu iodo,
E do murmúrio das ondas,
Quando elas vêm descansar na costa,
Após uma viagem atribulada,
Depois de conhecer outros seres,
E se dá a conhecer a mim.

Provérbio popular corvino e o "Sermão de Santo António aos Peixes" do Pe. António Vieira

   O grande erro deste mundo vem de um engano de S. Pedro.
   Nosso Senhor disse-lhe um dia:
 - Pedro, vai fora da porta e diz ao mundo:
- O pobre que viva do rico.
  Mas S. Pedro chegou à porta, enganou-se e disse:
- Ouçam todos que têm ouvidos para ouvir
- O rico que viva do pobre!...

(E vive!...)



O Padre António Vieira, no seu célebre Sermão de Santo António aos Peixes:
" Antes, porém, que vos vades, assim como ouvistes os vossos louvores, ouvi também agora as vossas repreensões. Servir-vos-ão de confusão, já que não seja de emenda. A primeira cousa que me desedifica, peixes, de vós, é que vos comeis uns aos outros. Grande escândalo é este, mas a circunstância o faz ainda maior. Não só vos comeis uns aos outros, senão que os grandes comem os pequenos. Se fora pelo contrário, era menos mal. Se os pequenos comeram os grandes, bastara um grande para muitos pequenos; mas como os grandes comem os pequenos, não bastam cem pequenos, nem mil, para um só grande."


segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Entre a Ditadura e o Banditismo Democrático

O Outono acaba de chegar, mas o Verão ainda não nos abandonou por completo; o calor teima em queimar-nos os corpos; e o país! Saio à rua para contrariar a dormência que me invade. Percorro estradas com trânsito caótico: uns falam ao telemóvel enquanto conduzem, outros enviam mensagens, aqui e ali, um carro cujos ocupantes seguem sem o cinto de segurança. Ao longo do meu itinerário acompanham-me cartazes com propaganda eleitoral para as eleições autárquicas; alguns, são cartazes descomunais, cujo presidente se recandidata à Câmara Municipal da Maia (onde resido); este já mudou o dito cartaz por três vezes desde que a campanha começou! O país está rico! Foco o meu olhar nas caras deles e nos falsos sorrisos com que se fizeram retratar (não confundir com retractar, porque isso eles não fazem!), são sorrisos que me provocam um misto de riso e revolta; tanto riso parolo com a ingénua intenção de caçar o voto! Vejo outros - que conheço! - que sempre apregoaram ter determinada ideologia política, mas que agora se juntam a partidos de cor radicalmente oposta; ou seja, diziam ser de esquerda e agora "viraram" à direita! São os vira-casacas! (Sim sei que o meu texto já vai cheio de exclamações! Isso deve-se àquilo que me invade: uma revolta por sermos um povo ainda tão néscio em termos de cultura democrática, que permite que um bando de malfeitores, de ladrões, mentirosos e aldrabões nos tenham vindo a roubar descaradamente ao longo de 39 anos consecutivos e que levaram o país à bancarrota.) Apetece-me lançar-lhes bosta naqueles sorrisos hipócritas com que emporcalham aldeias, vilas e cidades, deste malogrado Portugal. E o problema não se fica pelos cartazes; e os ferros que plantam por todo o lado para segurar toda a parafernália de lonas, papéis e plásticos - que nos custaram os olhos da cara - para esta bandidagem gastar à tripa-forra os parcos recursos que restam dos nossos esforços para fazer sair o país do buraco onde nos meteram, mas que eles se estão nas tintas para isso! A dado momento, um carro pára e aborda-me. Um casal pede-me informações de como chegar ao centro da Cidade da Maia, dou-lhes todas as informações necessárias e o casal lá vai. Por momentos os meus pensamentos afastaram-se do lixo que me tem acompanhado; estou a falar do lixo propaganda política, claro! Mas de repente, sou assaltado por um turbilhão de ideias: então não é que temos sido presenteados com enormes (não gosto da palavra mega, por isso fujo a esse neologismo!) desfiles de carros dos candidatos às autarquias, bem como dos seus aficionados (prefiro chamar a isto uma tourada) com bandeirinhas e a buzinar até nos ferirem os tímpanos; qual casamento importante. Após o 25 de Abril de 74 os candidatos a qualquer cargo político ainda se davam ao trabalho de fazer campanhas de esclareciemento às populações e apresentavam os seus projectos ou propostas para o cargo a que se candidatavam; hoje, a única coisa que vemos e ouvimos, é a "lavagem de roupa suja" de forma recíproca, ou então promessas impraticáveis e demagógicas, que logo após as eleições são esquecidas, ou fazem exactamente o seu contrário; não há uma única ideia clara e credível, quer para a freguesia, quer para o concelho! O que todos querem é um tacho e mordomias; o que todos procuram é dinheiro sem trabalho; o que todos querem é entrar de qualquer forma num qualquer sítio onde possam obter interesses para si, para a sua família e amigos; não há quaisquer escrúpulos; não há pinga de honestidade intelectual nesta gentalha; não há qualquer seriedade, nem capacidade para fazer o país sair desta imemorável crise! Assim, não se prevê que algum dia possamos sair desta lama em que nos meteram, pois a corrupação já se alastrou como os tentáculos de um polvo por todo o lado, e os mais novos não conhecem outra forma de atingir os seus objectivos na vida, daí que, será muito difícil uma mudança nas mentalidades dos Portugueses.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Viagens na Minha Terra

Numa passagem das suas "Viagens na Minha Terra" de Almeida Garrett, este questionou:

«E eu pergunto aos economistas, políticos, aos moralistas, se já calcularam o número de indivíduos que é forçoso condenar à miséria, ao trabalho desproporcionado, à desmoralização, à infâmia, à ignorância crapulosa, à desgraça invencível, à penúria absoluta, para produzir um rico?»

Passados que são 159 anos sobre a sua morte, o escritor e político não precisaria de fazer esta pergunta. Bastar-lhe-ia ver os telejornais, ler jornais e olhar à sua volta para ter a sua resposta.

Segundo o economista Eugénio Rosa, há 4,5 milhões de pobres em Portugal.

"O último relatório deste economista prova que em Portugal 4 488 926 (quase quatro milhões e meio) de portugueses que estariam na situação de pobreza se não fossem as transferências sociais, incluindo as pensões. Os números são do INE e mostram uma realidade alarmante: quase metade do país a afundar-se. Recorde-se que o limiar de pobreza em Portugal é de 5040 euros anuais, ou seja 420 euros a 12 meses (ou, como Eugénio Rosa prefere apresentar, 360 a 14 meses)."


Temos que "o número de indivíduos condenados à miséria, ao trabalho desproporcionado, à desmoralização, à infâmia, à ignorância crapulosa, à desgraça invencível, à penúria..." produziram os 25 maiores ricos em Portugal:


sábado, 2 de março de 2013

Ilhas de Bruma



 "Eu sou das ilhas de bruma onde as gaivotas vêm beijar a terra".


O verde das pastagens, o azul do mar e do céu, o perfume intenso das hortências,
O chilrear dos pássaros, o som do vento nos fios eléctricos, o marulhar das ondas na rebentação,
O cheiro a maresia, o aroma do verde húmido dos matos, o odor das burrecas encharcadas,
O som da água translúcida que brota da nascente e que se bebe na copa do inhame,
O perfume da flor da cana-roca e do incenso, o odor do sargaço na maré baixa,
O grito das gaivotas em terra quando o mar está bravo ou do garajau que faz voos rasantes sobre nossa cabeça para proteger o seu habitat, o mar ... aquele mar azul e quente que aquece a alma da gente, as plantas que aqui têm cheiro e vida e viço, as flores que aqui se oferecem à nossa amada de forma grátis, os animais selvagens que aqui são mais pacíficos, os picos, os vales, as quedas de água, o ar húmido, a chuva, o sol e o vento, que aqui se mostram num só dia ... 
São assim os Açores; é assim a minha terra, a ilha das Flores.

sábado, 2 de fevereiro de 2013

O Caos Após o 25 de Abril de 1974



Não gosto de política. Mas se a relação do Homem em sociedade é ela um acto político, não há como recusar que também eu faço política. Enfim... Deixemos para lá a filosofia. Quando despertei para as consequências de Abril, achava que com tanta liberdade, agora sim é que era. De início vieram os sucessivos governos provisórios; alguns deles duraram apenas alguns dias, depois, a coisa entrou nos eixos e lá tivemos o primeiro governo estável. Mas mal começaram esses governos ditos estáveis, eis que ouvimos falar em austeridade.
Creio que, se a memória não me falha - e já vai falhando alguma coisa -, o precursor terá sido o ainda pouco senil Mário Soares, que nos terá iniciado na mendicidade. Depois mais outra vez nos ajoelhamos aos pés dos países ricos da Europa, porque já tínhamos começado a gastar mais do que aquilo que recebíamos. Mas a coisa não ficou por aqui. Vieram os governos que gastaram somas astronómicas em obras de fachada, em autoestradas, em estádios de futebol, em Expo´s, em Centros Culturais, de qualquer coisa, em Casas da Música, e, veio finalmente, a estocada final: as falcatruas do BPN; uma trama tão bem urdida que nenhum dos ladrões está na cadeia; alguns deles - diz-se à boca pequena - enriqueceram com a valorização das malogradas acções daquele banco dos ricos, e, pasme-se: pavoneiam-se pela vida pública quais seres impolutos! Depois, veio novamente o pedido de apoio monetário à Troika, e como ninguém dá nada a ninguém, os países mais ricos emprestam-nos o dinheiro, mas como é óbvio, fazem exigências; controlos periódicos, não vão os mendigos gastá-lo novamente onde não devem! Então, cortam-se nos ordenados dos funcionários públicos, inventam-se duodécimos para tudo e mais alguma coisa, cortam-se nas reformas dos pobres - sim, porque nas dos ricos, menos mil ou dois mil euros numa reforma de 10 mil, não aquece nem arrefece; suspende-se as pré-reformas, corta-se nas indemnizações por revogação do contrato de trabalho por mútuo acordo... E agora o seu inverso: aumentam-se os impostos, criam-se novos impostos dissimulados de taxas, etc., etc..
Depois de a criação de um governo minúsculo, aumentam-se os tachos: dezenas de imbecis imberbes acabam de ser nomeados para secretários de Estado, subsecretários de Estado, disto e daquilo... parece que só para o Ministério da dita Cultura, terá sido uma vintena, de uma vez. Depois, ou antes, descobrimos que o Estado não cortou nas tais gorduras: são às centenas as fundações e os observatórios; um sorvedouro dos impostos dos contribuintes, e que não servem para nada, a não ser, sustentar uma corja de sanguessugas de parasitas, que em nada contribuem para o bem comum! E, assim Portugal vai definhando pouco a pouco (ou será que é mais depressa?).  Entretanto, estamos outra vez a ser recordistas europeus: a taxa de desemprego está lá bem alta no pódio dos países que estão de tanga: em Dezembro de 2012 subiu para 16,5%, mas com perspectivas de atingir os dois dígitos! Para lá iremos...
E para gáudio da malta, temos um Primeiro-Ministro que sugere aos portugueses que emigrem... nem mais! E eles emigram, ah, emigram, cada vez mais, mas primeiro fazem os seus estudos à custa dos nossos impostos, depois, bem, depois vão aplicar o seu saber e mão-de-obra noutros países onde há mais e melhor emprego e salários dignos desse nome!
Entretanto, para aqueles em que a idade já não aconselha a novas experiências... lá nos vão entretendo com tricas partidárias, com falsidades, com cada vez mais ladroeira, com mais mentiras, com mais corrupção, com mais impunidade... tudo isto protagonizado por políticos imberbes (e também com cãs!) que nunca souberam o que era trabalhar na vida, mas que por não haver nenhum regime político melhor do que a democracia, lá estão. É que hoje em dia já ninguém minimamente bem informado acredita nos actuais políticos, a não ser os fanáticos - que os há, também na política -, porque eles são mentirosos, desonestos, incompetentes, propagandistas e demagógicos!



Base Francesa nas Flores

     Foi com imenso gosto e até alguma nostalgia que assisti à visualização dos vídeos "Opération Hortensia" na Biblioteca Pública...