segunda-feira, 27 de novembro de 2023

Base Francesa nas Flores

    Foi com imenso gosto e até alguma nostalgia que assisti à visualização dos vídeos "Opération Hortensia" na Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada.


Tal como muitos Florentinos, também eu convivi com muitos dos Franceses que passaram pela nossa ilha.

Também eu trabalhei para a Estação Francesa de Telemedidas. Primeiro, nos "pontos técnicos" em Ponta Delgada, como segurança nocturno.
Depois trabalhei como condutor de pesados e ajudante de mecânico na oficina mecânica da Estação em Santa Cruz.
Foi a primeira altura da minha vida que recebi o melhor salário até então.

Apesar de ter tido uma experiência muito boa na Estação, onde fui muito bem tratado, obriguei-me a abandonar o meu emprego para me candidatar a bombeiro profissional de aeroporto, pois o emprego na Base Francesa não era seguro e dependia de assinatura de contratos a termo certo.

Fiz muitos amigos na Estação. Conheci muito da belíssima gastronomia francesa, graças à partilha das nossas gastronomias francesa/portuguesa.

Atendendo a que fui obrigado a começar a trabalhar aos onze anos de idade, só mais tarde fiz os primeiros estudos como trabalhador-estudante no período da noite.

Devido ao facto de conviver de perto com os amigos franceses, já falava um francês rudimentar, "de ouvido", no entanto, como tinha de ter nessa altura uma língua estrangeira, optei pelo francês, tive a preciosa ajuda de uma amiga Francesa que era professora, que muito me ensinou, pois a gramática francesa, tal como a nossa, é bastante difícil, com muitas exceções e subtilidades.
Graças à ajuda dessa professora consigo pensar, escrever e falar nessa língua.

Guardo vários desses amigos com quem me relaciono há mais de três décadas. Já passei férias várias vezes em casa deles em França e foi/é graças a eles que conheço um pouco da França.

Infelizmente a Estação Francesa de Telemedidas teve um fim e esse fim teve repercussões na vida de muitos Florentinos, eu entre muitos outros.
Isto porque o Acordo Luso-Francês previa um determinado número de bombeiros profissionais de aeroporto devido à operação do Transal C160, razão que levou a minha entidade patronal a reduzir o número de efectivos, tendo como consequência "convidado" estes profissionais à transferência para o Aeroporto Francisco Sá Carneiro no Porto.

As mudanças nem sempre são fáceis, sobretudo passar de uma das mais pequenas ilhas dos Açores para o Norte de Portugal e para trabalhar no segundo maior aeroporto de país.

Mas "há males que vêm para o bem"; porque me permitiu dar continuidade aos meus estudos (como trabalhador-estudante) e dar estudos à minha filha até à Faculdade.

Enfim... Tal como disse Fernando Pessoa, "tudo vale a pena se a alma não é pequena"!

E valeu a pena!

Agradecimentos à Direção da Associação dos Amigos da Ilha das Flores - da qual sou sócio.

 




segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

De regresso às origens

 De regresso às origens, não à terra que o viu nascer mas à de Teófilo de Braga;

"É que nas veias corre-me basalto negro
 E na lembrança vulcões e terramotos"

Foi necessário nova adaptação: às "Ilhas de bruma/Onde as gaivotas vão beijar a terra".
Habituado que estava ao frio de rachar no inverno no Norte de Portugal, e ao calor abrasador
no estio, ao bulício da Invicta, aos hábitos, costumes, tradições, gastronomia e falares, é uma
mudança radical.

Costumava dizer que a única semelhança entre um tripeiro e um Açoriano era a "língua".
Todavia, o falar do Norte tem bastantes subtilidades e características próprias de um povo,
mais dado a dizer o que pensa sem rodeios ou artifícios. São directos. Dizem o que pensam, pronto.
Usam um linguarejar brejeiro com palavrões que chocam os de fora.
É um facto reconhecido que os palavrões são bem aceites em certas partes do país, como é o caso do Norte de Portugal. Não tem nada de ofensivo. É cultural. E não se pense que apenas é usado pelas classes mais baixas daquela sociedade. Também é ouvido pelos extratos sociais mais elevados.
Mas essas diferenças não se ficam apenas no falar; também são distintas nos nomes das coisas.
Ora vejamos:


No Norte, um papo seco é um bijou,
um refogado é um estrugido,
um pequeno pão de trigo é uma molete,
Um cabide é uma cruzeta,
Um cadeado é uma corrente com que se ata o cão,
Um aloquete é um cadeado,
Conduzir depressa é "andar de gás à tábua",
Um terreno com árvores é uma bouça,
Dobrada é "tripas à moda do Porto",
Quando está frio, está um briol,
Aguça/afia é um apara lápis,
Basqueiro é fazer barulho, 
Estar com beiças é estar mal-humorado,
Bergar a mola, é trabalhar,
Biqueiro é pontapé,
Biscate é pequeno trabalho,
Ter uma breca é ter uma cãibra,
Bregalho é pénis,
Bufar é soprar,
Um chaço é um carro velho,
Chibar é revelar um segredo,
Chuço é guarda-chuva,
Cremalheira é dentadura/prótese,
Endrominar é persuadir alguém,
Esbardalhar é cair,
Estar com a rebarba é estar com ressaca,
jeco é um cão,
Dar uma lapada é dar uma chapada,
Levar um pêro é levar um murro,
Magnólia é nêspera,
Naifa é faca,
Não vale um chabeiro é não vale nada,
Picheleiro é canalizador,
Trolha é pedreiro,
Sertã é frigideira,
Sostra é preguiçoso,
Testo é tampa de tacho,
Cimbalino é um café (deriva de uma corruptela da palavra/marca de máquinas de café Italianas
CIMBALI), cimbali-no=cimbalino, café, no Porto.
Alapar é sentar
Estar de beiças é estar mal humorado
Bisga é cuspidela
Breca é cãibra
Arreganhar a tacha é rir e mostrar muito os dentes





Base Francesa nas Flores

     Foi com imenso gosto e até alguma nostalgia que assisti à visualização dos vídeos "Opération Hortensia" na Biblioteca Pública...